segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ciclo Debates > Privado - Público - Comum - Lisboa

Organização Maria Matos Teatro Municipal e Unipop

Há mais vida além do Estado e do mercado? Ao longo dos últimos anos, a oposição entre público e privado tem vindo a ocupar um lugar fundamental dos debates políticos e com a crise económico-financeira esta tendência acentuou-se de modo ainda mais nítido. Neste ciclo de debates, a Unipop propõe partir das contraposições entre Público e Privado e entre Estado e Mercado, discutindo-as em diferentes dimensões do quotidiano, da organização do trabalho à construção das cidades, passando pelos processos educativos, pelo espaço mediático e pelas políticas de saúde. Procuraremos analisar as transformações das últimas décadas, tanto à escala nacional como à escala global, e apontar novos caminhos, num debate que vai além da simples contraposição entre Público e Privado ou Estado e Mercado, contraposição cuja rigidez tende muitas vezes a confinar o combate aos processos de privatização à defesa do controlo estatal. S e por um lado queremos mapear claramente o que separa Privado e Público, por outro trata-se de questionar formas de poder transversais ao espaço público e à esfera privada.

sexta 8 Outubro 18h00 às 21h00
O que é o comum?
Com Michael Hardt e Unipop
Sala principal
Em inglês
Entrada livre
Com a publicação de Império, em 2000, Michael Hardt e Toni Negri renovaram de modo significativo os termos do debate político à esquerda. O livro, entre muitos outros pontos de debate, procurou repensar a política além da alternativa entre o Capitalismo e o Socialismo, assumindo como tarefa a renovação de um imaginário radical igualmente crítico do Estado e do Mercado, retomando as tradições autónomas do movimento operário, assumindo-se como herdeiro de Maio de 68 e acompanhando os novos movimentos alterglobais. Em Multidão, primeiro, e, mais recentemente, em Commonwealth, Hardt e Negri continuaram a reflexão iniciada em 2000, nomeadamente em torno dos temas da propriedade, da produção e do rendimento, articulando alguns dos principais debates marxistas em torno da economia com os estudos foucauldianos acerca da Biopolítica e da governamentalidade. Sublinharam, em particular, a neces sidade de construir uma política assente no Comum, entendido como condição essencial do Comunismo, tal como o Privado será condição do Capitalismo e o Público do Socialismo. Dez anos depois de Império, Michael Hardt discute em Lisboa, com a Unipop, alguns dos aspectos mais importantes do trabalho político da dupla Hardt e Negri.

quarta 13 Outubro 18h30
Economia, comunismo e pirataria
Com João Rodrigues e Miguel Serras Pereira
mm café
Entrada livre
Nos últimos anos tem sido frequentemente debatido o maior peso do Estado ou do mercado na vida económica. Ao culto da livre iniciativa empresarial contrapõe-se a necessidade de maior regulação estatal, num debate a que não são de todo indiferentes as transformações ideológicas do Liberalismo e do Socialismo no século XX e as dinâmicas de globalização nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, a partir de experiências como as que caracterizaram a crise argentina de início deste século, retomaram a sua actualidade debates acerca do próprio modo de organização do poder no seio da empresa, reavivando-se tradições conselhistas ou de auto-gestão, assim como colocando na ordem do dia novas práticas comunais, de que se encontra exemplo em relação à questão dos direitos de autor e de propriedade intelectual.
João Rodrigues é economista do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Miguel Serras Pereira é tradutor.

quarta 20 Outubro 18h30
Cidades, centros comerciais e praças públicas
Com Miguel Silva Graça, Manuel Graça Dias e João Pedro Nunes
mm café
Entrada livre
A cidade tem sido palco de conflito entre interesses privados e públicos, conflito em que a questão imobiliária e os debates em torno do planeamento, colocando em causa a sacralidade do direito à propriedade privada, têm assumido particular destaque. Entretanto, a fronteira entre público e privado nem sempre resulta clara, seja porque a questão da privacidade tem sido colocada no âmbito do próprio espaço público (vejam-se os debates em torno da videovigilância), seja porque existem determinados espaços privados, como os centros comerciais, que parecem assumir funções de encontro e reunião que antes eram apanágio da rua ou da praça. Ao mesmo tempo, os problemas específicos da habitação, dos chamados bairros de lata aos novos bairros sociais, passando pelos condomínios fechados, pelos processos de gentrificação ou pelos movimentos de ocupação de casas, têm colocado as fronteiras entre público, e privado em transformação, nuns casos, consolidando-as, noutros, atenuando-as.
Miguel Silva Graça é arquitecto e doutorando na Universidade de Valladolid, Manuel Graça Dias é arquitecto e professor de Arquitectura na Universidade do Porto e João Pedro Nunes é sociólogo e investigador do CIES-ISCTE.

quarta 27 Outubro 18h30
Media, propriedade e liberdade
Com Daniel Oliveira, Nuno Ramos de Almeida e Rui Pereira
mm café
Entrada livre
De que falamos quando falamos de liberdade de expressão? Nos últimos anos, os grandes meios de comunicação social fazem alarde da liberdade de expressão contra alegadas interferências do Estado, mas poderemos falar de liberdade de expressão no quadro de uma economia dos media em que a concentração impera? Neste contexto, importa atender a novas formas de comunicação que, à margem do controlo directo do Estado e dos grandes grupos privados, têm vindo a tecer redes muito vastas em que a fronteira entre emissor e receptor parece fragilizar-se. É o caso de uma série de meios suportados pela internet, que, aliados aos novos desenvolvimentos tecnológicos, permitem colocar em cima da mesa novas possibilidades de estender o direito de emissão televisiva ou radiofónica além das empresas públicas e das empresas privadas de comunicação.
Daniel Oliveira, Nuno Ramos de Almeida e Rui Pereira são jornalistas.

quarta 3 Novembro 18h30
Medicina, ciência e saberes
Com António Fernandes Cascais e Isabel do Carmo
mm café
Entrada livre
Em tempo de guerra ou em tempo de paz, o sistema estatal de saúde constitui um dos elos mais importantes da relação entre os estados e as populações e durante a segunda metade do século XX os sistemas estatais de saúde têm sido considerados, na Europa mas não só, como uma das áreas primordiais de intervenção estatal, entre outras coisas visando impedir que as desigualdades económicas entre pessoas e classes se reflictam de modo ainda mais marcante no direito universal à saúde. Durante o mesmo período, contudo, as relações entre médico e doente têm vindo a ser cada vez mais objecto de debate, no quadro do questionamento das lógicas de poder subjacentes ao conhecimento científico, daqui resultando importantes discussões acerca da importância do “atendimento” em meio hospitalar (questão particularmente valorizada por agentes privados do sector da saúde), por um lado, e, por outro, da necessidade dos sistemas públ icos integrarem saberes e conhecimentos heterodoxos face às correntes dominantes na medicina (questão com implicações a nível nacional mas também no quadro dos debates em torno das valências de diferentes práticas culturais).
António Fernandes Cascais é professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Isabel do Carmo é médica no Hospital de Santa Maria.

quarta 10 Novembro 18h30
Escola, ordem e emancipação
Com António Avelãs e Jorge Ramos do Ó
mm café
Entrada livre
A disputa pelo método de educar atravessa a História e é motivo de concórdia e discórdia entre professores, ministros, pais, psicólogos, alunos. Entre o ensino público e o ensino privado, o primeiro financiado pelo Estado e o segundo suportado pelas famílias, têm-se travado muitos destes debates, que se cruzam com outros tantos, à volta do ideal iluminista da educação como emancipação, e do seu potencial para corrigir as desigualdades ou, pelo contrário, para as reproduzir. Entretanto, a disputa pelo método de educar coloca igualmente em campo professores e alunos. As relações de poder que entre eles se estabelecem, das reiteradas críticas à falta de autoridade dos docentes à tentativa de levar a cabo experiências pedagógicas emancipatórias da condição estudantil, têm suscitado um debate pouco informado, mas nem por isso menos acirrado, e que constitui o ponto de partida para esta conversa.
António Avelãs é professor e presidente do Sindicato de Professores da Grande Lisboa e Jorge Ramos do Ó é historiador e professor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.