
Por Nuno Gonçalves
Teatro: YÁTRA - Encenação de Maria João Miguel

Numa gravação realizada em vida, o irmão explica que a razão do pedido prende-se com o facto de desejar que as suas cinzas sejam espalhadas na terra do seu amor: Kochi, na Índia. Um dia, apaixonou-se por uma indiana que conheceu numa feira itinerante que passou pela cidade. Envolveram-se pelo meio de panos e caril e nunca mais se viram. Quando acordou já não havia nem panos nem feira. Nunca percebeu quantos foram os dias em que ficou a dormir, percebeu apenas que era alérgico a caril, pois quando o voltou a experimentar, na esperança de reencontrar os prazeres que sentira outrora, caiu num sono profundo. Soube uns dias depois que a deusa que o levara ao paraíso era filha de um comerciante de panos e especiarias, e que andavam com os restantes comerciantes de país em país a vender um pouco da sua cultura. Adelino, era o nome do irmão, foi atrás do rasto da feira durante anos, mas nunca a conseguiu alcançar, pois a alergia ao caril foi ficando cada vez mais intensa, fazendo com que este adormecesse cada vez que se aproximava da feira. Regressado a Portugal Profundo, Adelino sucumbiu à dor do amor e morreu com uma overdose de caril.
Mas antes, juntamente com a gravação do testamento, facultou aos irmãos, num baú, um mapa do percurso a realizar (o percurso realizado pela feira itinerante), bem como, utensílios e conselhos necessários à viagem.
Os dois irmãos, que nunca tinham saído de Portugal Profundo, iniciam uma viagem, a bordo de uma tricicleta, que os levará a lugares que julgavam não existir, cruzando-se com culturas baseadas noutros valores e identificando-se com inúmeras situações.
Texto e Dramaturgia: Carla Vasconcelos, Hugo Sovelas, Maria João Miguel
Cenografia, Figurinos e Adereços: Ana Limpinho
Desenho de Luz: Alexandre Costa
Música Original: Adriano Filipe
Design Gráfico: Nuno Franco
Fotografia da Leitura Encenada: Paulo Virgílio
Produção Executiva: José Mateus
Co-Produção: Propositário Azul/ Centro Cultural Malaposta
Interpretação: Carla Vasconcelos e Hugo Sovelas
Voz-Off: José Mateus
De 18 a 29 de janeiro -Teatro da Trindade
Largo da Trindade, 7-A, 1200-466 Lisboa
Concerto: Nicolas Jaar
O nova-iorqui

O jovem produtor, que passou parte da sua vida no Chile, surpreendeu a crítica em 2011 com o seu álbum de estreia, "Space is Only Noise" - electrónica delicada e introspectiva, pouco dada à pista de dança e com bastante de orgânico; o próprio faz a distinção, afirmando que, para si, música electrónica não é sinónimo de música de dança. Cruza com à vontade o jazz, a electrónica minimal, a sua voz e o piano, por exemplo.
O produtor editou entretanto três novos EPs, pelo que se espera um concerto com algumas novidades e, quem sabe, talvez volte a surpreender com uma convidada: a sua estreia em Portugal, também no Lux, ficou marcada por um dueto improvável com a fadista Carminho. Consta que se terão conhecido no dia anterior ao concerto e que Jaar a convidou a subir ao palco depois a ouvir cantar fado.
Por Dinis Correia