Drive, o thriller dramático de Nicolas Winding Refn, é mais que um figurativo murro no estômago... É uma gargantuana injecção de adrenalina na carótida que parece vir de nenhures. O protagonista é um anti-herói sem nome, não muito diferente do instaurado por Eastwood e Leone décadas atrás. Conduz automóveis. Para filmes, para assaltos. Por detrás da postura insondável e do rosto e olhos glaciares, raramente se vislumbram vestígios de Humanidade. Exceptuando quando se deixa envolver com a vizinha do lado e o seu filho. Tudo deixa de estar sob o seu controlo gélido e deixa que a imperfeição do sentir contagie e comprometa tudo aquilo que é ou sabe ser. Ryan Gosling novamente prova que é o grande e incontornável actor da sua geração numa difícil e complicada interpretação, absolutamente petrificada mas que se deixa involuntariamente afectar pela inevitabilidade de amar. A vulnerabilidade raramente emerge mas quando tal acontece é uma transfiguração assombrosa. Tal como é o insuportável crescendo de tensão construída ao longo do filme que quando conhece libertação não encontra retorno. A partir do momento em que o sangue começa a jorrar, metaforicamente e de forma extremamente literal e gráfica, tudo se esvai numa espiral demente de violência. A realização de Refn, premiada em Cannes, não se deixa absorver pelas inspirações vindas do cinema dos anos 80, misturando o cinema de acção série B dessa década com os primeiros rasgos de inovação de Steven Spielberg, John Carpenter e David Cronenberg, e cria um mutante estilizado absolutamente irresistível, com um extremo cuidado na meticulosa construção do plano e uma inventividade que cada vez menos emerge do cinema americano, cada vez menos preocupado com o conteúdo do olhar. E o olhar de Refn é rude e impiedoso. Mas perfidamente apaixonante.
Por Nuno Gonçalves
Teatro: Casa&Jardim
Oito mulheres numa festa entre a Casa e o Jardim…
Casa & Jardim são duas peças representadas em simultâneo pelas mesmas atrizes, a desempenharem os mesmos papéis, em dois palcos diferentes. O público vê primeiro uma e depois a outra. Casa & Jardim estão apenas à distância de uma parede, tal como os dois lados de uma muralha. Partindo de uma ideia de Alan Ayckbourn, os dois textos foram escritos para a mala voadora por Chris Thorpe.
Encenação Jorge Andrade
Com Anabela Almeida, Carla Bolito, Crista Alfaiate, Joana Bárcia, Mónica Garnel, Paula Diogo, Sílvia Filipe, Tânia Alves
CCB, 12 -17 Janeiro 2012, Pequeno Auditório, > 12 anos
Debate: 6 Debates, 6 Temas: O Livro
Fazer Cultura em Portugal
Paulo Teixeira Pinto, Paulo Ferreira
O livro tem sofrido profundas alterações nos últimos anos:
uma maior abrangência tanto de quem publica, como de quem lê,
o surgimento de novos suportes de leitura, a concentração de operadores,
a crescente necessidade de especialização de chancelas, o recurso a novos espaços de venda são algumas das modificações verificadas.
O que é então o livro hoje em dia no nosso país e que valor tem ele
para e no sector da Cultura em Portugal?
12 Janeiro (5ª), 21h30, Sede da SEDES (Rua Duque de Palmela, nº 2 - 4º D), Entrada livre sujeita à lotação da sala (sedes@sedes.pt)
Concerto: Noites da Rua
As "Noites da Rua", promovidas pelo magazine Rua de Baixo
Esta quinta edição arranca com concerto dos Hã!, banda composta por dois elementos dos temporariamente suspensos Jesus, The Misunderstood. Canções solarengas, com influências que vão de My Bloody Valentine aos The Beatles, segundo os próprios. Sem disco editado, mas com um EP distribuído gratuitamente online, prometem para esta noite novas músicas.
Seguem-se os :papercutz, projecto electro-acústico que junta o portuense Bruno Miguel e a norte-americana Melissa Veras e com considerável projecção internacional (tocaram no SXSW em 2010 e contam com vários prémios ganhos lá fora). O novo álbum, "The Blur Between Us", dará o mote ao concerto.
A terminar a noite, os DJ escolhidos pela editora Iberian Records - Unidade Sonora e Mr. Gasparov - e o live act de Niño.
Por Dinis Correia