segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ciclo Palestras e Seminários: Cultura e a Produção do Mundo: derivas, derivativos e devires

sexta 26 outubro a sexta 30 novembro
Curadoria André Lepecki
Um encomenda Maria Matos Teatro Municipal
Um projeto HOUSE on FIRE com o apoio do Programa Cultura da União Europeia

CALENDÁRIO

Palestras 18h30
Entrada livre
sex 26 outubro André Lepecki Fazendo mundo(s)
sex 9 novembro Florian Malzacher Truth is concrete
sex 16 novembro  Randy Martin After culture?
sex 23 novembro José Fernando Azevedo Forma e Experiência em algumas cenas do “teatro de grupo” no Brasil
sex 30 novembro Bojana Kunst Movement Should Not Be Flexible


Seminários/Workshop 10h00 às 13h30
Entrada livre mediante inscrição prévia obrigatória
qui 8 e sex 9 novembro Florian Malzacher Trackling Reality
qui 15 a sáb 17 novembro Randy Martin Knowledge LTD.
qua 21 a sex 23 novembro José Fernando Azevedo Cidade-Imagem, imagens da cidade

Vivemos num momento em que a economia global, a diversidade cultural multipolar e a ideologia neoliberal se agenciam na produção de um novo paradigma “paracolonial” (utilizando uma expressão de Aimé Césaire) onde se prenuncia o muito falado “fim da política”. Este entrelaçamento singular de forças obriga a pensar como o mundo produzido pela lógica implacável dos mercados e suas derivas erráticas, derivativos virtuais e performances de poder requer a formação de alternativas. Em resposta ao mundo neoliberal multipolar, com as suas reinventadas diversidades culturais e as suas massacradas e colonizadas forças de cultura, propõe-se um renovado commitment to theory (para usar a expressão de Homi Bhaba) aliado a um commitment to act (parafraseando Hanna Arendt). Ou seja: uma renovada aliança entre a ação política e o fazer cultural, ligada ao pensamento e à arte e orientada para a produção de outros modos de viver, experimentar e fazer. Trata-se, antes de tudo, de saber produzir devires. Foram convidados académicos, curadores e artistas cujo trabalho deriva do forjar de novas alianças entre filosofia política, estudos culturais, estudos da performance e práticas artísticas e curatoriais que resistem ao “devir cultural da economia, e ao devir económico da cultura”, recorrendo à expressão de Frederic Jameson, vislumbrando já em 1998 as dinâmicas que nos avassalam hoje em dia.

André Lepecki
palestra
Fazendo mundo(s) ― políticas da performance na multipolaridade planetária
mmcafé
sexta 26 outubro 18h30
Nesta palestra, introduz-se o tema deste ciclo. Analisando algumas performances recentes iremos ver de que maneira uma eventual ontologia política da performance não se reduz à sua temporalidade (efemeridade), mas principalmente à sua capacidade de produzir, fazer, compor e recompor o mundo nas suas realidades (atual e virtual). Uma ênfase especial será dada ao modo como este entendimento mais afirmativo da performance se entrecruza, histórica e teoricamente, com a emergência de críticasrecentesaos conceitos de identidade cultural, globalização e capitalismo pós-fordista. A “multipolaridade” (de géneros, mas também planetária) surgirá através de discussão de trabalhos deMaria José Arjona, Yingmei Duan, Lilibeth Cuenca, Tania Bruguera, Nevin Aladag, Marcela Levi, Yve Laris Cohen e Ralph Lemon. A palavra-chave é (acima de tudo): discussão…

André Lepecki (Rio de Janeiro/Nova Iorque) é Professor Associado no Department of Performance Studies, New York University. Doutor pela New York University, é autor de Exhausting Dance: performance and the politics of movement (2006), traduzido atualmente em sete línguas e coordenador editorial de várias publicações. Foi curador do festival IN TRANSIT em Berlim (2008 e 2009) e cocurador para a exposição MOVE: choreographing you na Hayward Gallery, Londres (2010). Premiado pela Associação Internacional de Críticos de Arte na categoria Best Performance pela direção de 18 Happenings in 6 Parts de Allan Kaprow.

Florian Malzacher
palestra
Truth is concrete. Artistic Strategies in Politics and Political Strategies in Art
mmcafé
sexta 9 novembro 18h30
Onde quer que se presenciem momentos de agitação ― no mundo árabe, nas revoltas sociais da Grécia ou da Espanha, nos movimentos Occupy, etc. ― os artistas estão entre os primeiros a aderir. Mas serão eles meros cidadãos participativos em tais circunstâncias ou poderá a sua arte ser utilizada como ferramenta útil? Qual o papel da arte na corrente de eventos políticos a nível mundial, que são tão difíceis de acompanhar e compreender?

Truth is concrete, um acampamento-maratona de 24 horas/7dias em Graz (Áustria) com a participação de 200 artistas, ativistas e teóricos, procura formas de ação direta, bem como mudanças e conhecimentos tangíveis. Procura uma arte engajada, que não sirva apenas para exibir e documentar, e um ativismo que não signifique apenas "fazer por fazer", mas que encontre formas inteligentes e criativas de autocapacitação. Truth is concrete é um esforço no sentido de se criar, não apenas mais um evento sobre política, mas um evento político em si mesmo. truthisconcrete.org

seminário
Tackling Reality
quinta 8 e sexta 9 novembro 10h00 às 13h30
Entrada livre, máximo 12 participantes
Inscrição obrigatória até 25 outubro, envio de nota biográfica e carta de motivação, sujeita a seleção: teatromariamatos@egeac.pt
Dirigido a estudantes e profissionais da área da Curadoria das Artes Performativas

Nos últimos anos, o conceito de curadoria tem-se tornado cada vez mais influente no domínio das artes performativas. No entanto, apesar de extensivamente debatido e teorizado no âmbito das artes plásticas, as implicações dos conceitos de curadoria (distintos do conceito mais amplo de programação) continuam ainda por refletir.
Contextualizar é um dos termos-chave para a prática da curadoria ― mas nas artes performativas este contexto encontra-se ainda limitado, em grande parte, à caixa negra. De que modo é que os festivais e outras formas de apresentação das artes performativas podem reforçar a capacidade de resposta contextual? De que forma é que se pode abordar a realidade à nossa volta ― espacial, social, política, económica, etc ― e contextualizar as obras de arte em relação às outras ou dentro do meio em que se encontram?  O seminário analisa exemplos de curadoria nas artes performativas e discute ideias para projetos reais ou imaginados da autoria dos participantes.

Florian Malzacher (Graz/Berlim) é coprogramador do festival steirischer herbst em Graz, diretor artístico da Bienal Impulse Theater e dramaturgo/curador freelance do Burgtheater de Viena. É membro fundador do coletivo de curadores Unfriendly Takeover (Frankfurt) e tem colaborado com Rimini Protokoll, Lola Arias e Nature Theater of Oklahoma. Tem lecionado nas universidades de Viena e de Frankfurt e é membro do conselho consultivo do Mestrado em Teatro da DasArts, em Amesterdão. As suas publicações incluem obras sobre as companhias de teatro Forced Entertainment e Rimini Protokoll, bem como o título Curating Performing Arts.


Randy Martin
palestra
After Culture?
mmcafé
sexta 16 novembro 18h30
A cultura tem sido utilizada de diversas formas: no século XIX, como indicador da excelência estética e reconhecimento da alteridade pelo colonizador; em meados do século XX, como símbolo dos valores conservadores e, no final do milénio, como símbolo de emancipação. Mais recentemente, a cultura tem sido instrumentalizada como redentora das cidades ameaçadas pelo marasmo do pós-desenvolvimento, no contexto das cidades criativas. Depois do colapso financeiro, fomos atingidos pelas consequências da torrente dos derivativos. Haverá forma de pensar no derivativo de modo diferente e ver nele uma lógica social que revalorize os impulsos artísticos radicais que de outra forma parecem fragmentados e dispersos?

seminário
Knowledge LTD: Toward a Social Logic of the Derivative
quinta 15 a sábado 17 novembro 10h00 às 13h30
Entrada livre, máximo 15 participantes
Inscrição obrigatória até 1 novembro, envio de nota biográfica e carta de motivação, sujeita a seleção: teatromariamatos@egeac.pt
Dirigidoa estudantes e profissionais das artes e de Estudos Culturais

Como deveremos reagir quando os conhecimentos que diziam governar o mundo nos deixaram ficar mal e aqueles que assumem o controlo das nossas vidas se mostram indiferentes perante o próprio saber especializado que anteriormente afirmavam poder governar-se a si próprio? O velho pacto social da classe de profissionais empresariais encontra-se em processo de dissolução e as promessas de um futuro progressivamente melhor estão a ser anuladas; ao mesmo tempo, as ruas são ocupadas por mobilizações com resultados incertos. Estas sessões irão considerar esta complexa conjuntura de circunstâncias que reformularam as categorias básicas usadas até aqui para compreendermos o nosso mundo social. Se a arquitetura do conhecimento que compartimenta a economia, a política e a cultura se desmoronou, o que se lhe seguirá? Haverá um momento em que possamos estar juntos para lá das diferenças? Os três dias serão dedicados à situação atual da economia, da política e da cultura e ao reconhecimento das potencialidades radicais do presente. Abordaremos cada uma das sessões com uma reflexão sobre o derivativo, não como força colonizadora da finança, mas como decorrente de processos mais longos de descolonização e de não-saber que podem influenciar as nossas próprias formas de arbitragem.


Randy Martin (Nova Iorque) tem formação e experiência no campo da dança, teatro e arte do palhaço, tendo igualmente desempenhando funções de administração académica. Atualmente é professor e diretor do Departamento de Arte e Políticas Públicas na Tisch School of the Arts, da Universidade de Nova Iorque, onde dirige o programa de pós-graduação em Política da Arte e um curso em Cidadania Artística. Publicou uma dezena de livros e mais de cem artigos sobre tópicos que vão da teoria marxista às culturas financeiras e das políticas da dança ao teatro nicaraguense.


José Fernando Azevedo
palestra
Forma e Experiência em algumas cenas do “teatro de grupo”no Brasil
mmcafé
sexta 23 novembro 18h30
No Brasil, a experiência do “teatro de grupo” define desde o final dos anos 90 um processo de politização da cena. É certo, moderno desde a sua origem, o teatro brasileiro é já um depoimento, da periferia do capitalismo, sobre os processos contemporâneos de espoliação e desagregação da vida. Essa intervenção pretende-se num só tempo uma apresentação e um depoimento sobre o modo como essa experiência teatral tem desenhado a fisionomia de uma sociedade que, além do otimismo atual, revela impasses não apenas locais, mas um outro lado de um processo que é mundial.

workshop de teatro
Cidade-Imagem, imagens da cidade:"Cenas de rua" e a elaboração poética dos materiais
quarta 21 a sexta 23 novembro 10h00 às 13h30
Entrada livre, máximo 15 participantes
Inscrição obrigatória até 8 novembro, envio de nota biográfica e carta de motivação, sujeita a seleção: teatromariamatos@egeac.pt
Dirigidoa estudantes e profissionais de teatro

Ao explorar procedimentos desenvolvidos no trabalho de criação do Teatro de Narradores, em São Paulo, o workshop teórico-prático estrutura-se a partir de uma aproximação ao trabalho de campo e a elaboração poética dos materiais. Com isso, pretende-se abarcar aspetos da dramaturgia, da atuação e da encenação, sob uma perspetiva dialética, e interrogar sobre o que se possa entender por um “teatro político” hoje. Durante os encontros, ações, intervenções e construção de cenas comporão momentos da investigação proposta, segundo temas definidos pelo grupo envolvido.

José Fernando Azevedo (São Paulo) é diretor e dramaturgo do Teatro de Narradores de São Paulo; professor de Teoria do Teatro e História do Teatro Brasileiro na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo; doutor em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da USP. Foi cocurador do Próximo Ato ― Encontro Internacional de Teatro (2006-2009) e do programa Rumos Teatro (2011), ambos organizados pelo Itaú Cultural. Em 2011, foi cocurador do Festival Internacional de Teatro de Rio Preto. É cocoordenador do volume Próximo-Ato: Teatro de Grupo e editor da revista Camarim da Cooperativa Paulista de Teatro.

Bojana Kunst
palestra
Movement Should Not be Flexible
mmcafé
sexta 30 novembro 18h30
Atualmente, a dança e a performance contemporâneas são muitas vezes criadas segundo formas que apagam continuamente as diferenças e nuances entre expressões e subjetivizações. Por exemplo, a prática da dança na Europa, especialmente na última década, passou a estar subjugada à ilusão de uma flexibilidade e produção colaborativa constantes, à mobilidade pela mobilidade, em que as subjetividades do artista têm de tornar-se incorpóreas sob pena de perder ligação e perder oportunidades. Parece existir algo nos modos temporais das obras contemporâneas que, com a sua imaterialidade e flexibilidade, elimina a variabilidade das modulações nas formas de vida, a necessidade de diferentes articulações temporais daquilo que é vivido e as potencialidades da vida. Nesta palestra, falarei sobre esta peculiar forma de cansaço relacionada com a flexibilidade e o movimento contínuo que caracterizam a produção artística e o mercado artístico contemporâneos. Por conseguinte, perante as atuais condições culturais e económicas, a questão central será: como persistir na materialidade contingente das várias expressões que não pertencem a uma temporalidade acelerada de acumulação, mas sim à dinâmica política da mudança.

Bojana Kunst (Liubliana/Hamburgo) é filósofa, teórica de performance, dramaturga e professora convidada no Departamento de Estudos de Performance da Universidade de Hamburgo. Áreas de investigação: teoria da performance, coreografia contemporânea, teoria política, dramaturgia e filosofia da arte. É membro do conselho editorial das revistas Maska, Amfiteater e Performance Research. As suas publicações incluem Impossible Body (1999), Dangerous Connections: Body, Philosophy and Relation to the Artificial (2004) e Processes of Work and Collaboration in Contemporary Performance (2010).