As intersecções entre práticas artísticas e comunidades não são um fenómeno recente, embora sejam hoje objecto de destaque nos mais variados quadrantes, da criação à programação cultural, da política às ciências sociais. Este relevo tem simultaneamente gerado múltiplas acções, de maior ou menor dimensão, de carácter mais experimental ou mais institucional, e também inúmeros equívocos conceptuais e metodológicos, o que torna premente uma reflexão aprofundada e transversal sobre estas matérias.
Artes e Comunidades – Encontros é um evento organizado pelo Serviço Educativo do CCVF que pretende dar lugar a essa reflexão, reunindo à volta da mesma mesa um conjunto plural de profissionais, sejam das áreas artísticas, sociais ou educativas, cuja prática quotidiana se desenvolva nestes territórios.
A questão de fundo que nos colocamos diz respeito à inscrição (através) das práticas artísticas nas comunidades. Mas ambicionamos um debate mais alargado: sobre as hierarquias que cristalizam o pensamento em torno das artes e das formas culturais, sobre a Arte e o seu lugar na sociedade, sobre a(s) voz(es) da(s) cultura(s), sobre a manipulação fácil de discursos e práticas ditos em prol das comunidades, sobre o uso indiferenciado dos termos “público” e “comunidade”.
Um grupo singular de convidados é responsável por orientar três grupos de trabalho em três percursos distintos que ora se encontram ora se afastam, e se movimentam entre teoria e prática. Os Encontros abrem e encerram em sessões comuns, mas o núcleo dos dias de Sábado e Domingo é reservado para que cada grupo aprofunde as questões específicas propostas pelos orientadores.
Letizia Quintavalla, encenadora maior no panorama europeu, mas reconhecida um pouco por todo o mundo como criadora e pedagoga, dirige um ateliê em torno da relação entre o espaço cénico e o público e da criação com crianças e jovens. João Sousa Cardoso, criador com um percurso firmado nas fronteiras entre áreas disciplinares, das artes visuais, ao cinema e à sociologia, desafia-nos a uma reflexão sobre as formas locais e comunitárias na contemporaneidade portuguesa. Giacomo Scalisi e Madalena Victorino, cujo trabalho de programação para públicos jovens não necessita de apresentação, partirão duma aventura em que se lançaram há 3 anos numa zona subterrânea de Lisboa – o Martim Moniz - o Festival Todos, Caminhada de Culturas.
Serão aceites inscrições de profissionais de todas as áreas cujo trabalho e interesse assente nos possíveis (des)encontros entre artes e comunidades. As inscrições serão objecto de pré-selecção, através do envio de uma pequena biografia e motivação para integrar os Encontros. Cada participante ficará inscrito apenas num dos grupos.
CONVIDADOS E TEMAS
Letizia Quintavalla
Todos os lugares têm uma identidade
O círculo - espaço cénico como arena de emoções
Todos os lugares têm uma identidade. O círculo é um espaço com uma forte identidade: tem uma fisionomia geométrica específica e uma forma “democrática” e múltipla; tem uma psicologia própria; produz uma tensão emotiva que une actores e público.
A partir do visionamento e discussão de alguns espectáculos criados por Letizia Quintavalla (Vassilissa, Fango e Um beijo, outro beijo, um beijo mais) e estruturados a partir de um espaço cénico circular, serão analisados a dramaturgia e o trabalho do actor e serão desenvolvidos exercícios práticos.
Num segundo momento, será apresentado o trabalho da Compagnia dei Bambini, uma pequena companhia teatral de crianças cujos espectáculos se destinam a adultos.
João Sousa Cardoso
As mãos negativas
Reflexão sobre as formas locais
As mãos negativas é um seminário de reflexão sobre as relações entre o lugar, as formas e o valor da experiência no seio das manifestações populares.
Tomando o nosso país como campo privilegiado de observação, o seminário analisa como tantos artistas eruditos e viajados, das artes plásticas ao cinema, necessitaram de ir ao encontro das formas locais, anacrónicas e reais, para as experimentarem directamente. Da descoberta nasceram representações que transfiguraram as formas arcaicas, renovaram a ideia de presente e inventaram um país mais justo.
O seminário apoia-se no estudo de imagens documentais e artísticas, de uma selecção de curtas-metragens e doutras referências históricas, sociológicas e culturais necessárias ao exame crítico das formas locais e comunitárias na contemporaneidade portuguesa.
Madalena Victorino/ Giacomo Scalisi
Arte e Sociedade
Projectos multidisciplinares de proximidade
Tendo como ponto de partida o Festival TODOS, Caminhada de Culturas, este seminário visa a apresentação e análise de projectos de programação cultural em que, implicado na criação artística, está um contacto real e próximo entre comunidades, artistas, obras e públicos. Serão discutidas as premissas e o estudo de campos necessários a estas práticas: questões políticas, económicas, sociológicas, históricas, arquitectónicas, educativas, artísticas...
Será dada atenção também a outros projectos, tendo em conta contextos, processos, objectivos e testemunhos.
Exercícios de imaginação de projectos futuros também farão parte integrante deste encontro.
PROGRAMA
Sexta-feira 28 Outubro
18h00 | Foyer do Pequeno Auditório
Recepção dos participantes
19h00-21h00 | Pequeno Auditório
Apresentação dos Encontros e dos convidados da presente edição
Apresentação e discussão das propostas de trabalho
21h00 | Bar de artistas
Jantar convívio
Sábado 29 Outubro
10h00-13h00 e 14h30-18h30
Trabalho prático
Domingo 30 Outubro
10h00-13h00 e 14h30-16h30
Trabalho prático
17h00-19h00 | Pequeno Auditório
Reunião dos grupos de trabalho
Debate e conclusões
Local Centro Cultural Vila Flor
Horários Sexta-feira 28 Outubro | 19h00-21h00, Sábado 29 Outubro e Domingo 30 Outubro | 10h00 às 19h00
Inscrição 30€ (inclui jantar do dia 28)
Lotação 3 grupos de 15 a 25 participantes
Data limite de inscrição 10 de Outubro
Formulário de Inscrição
As inscrições poderão ser efectuadas no Centro Cultural Vila Flor ou através do preenchimento da ficha de inscrição disponível on-line em www.ccvf.pt. As inscrições serão objecto de pré-selecção, através do envio de pequena biografia e motivação para inscrição nos Encontros. Após pré-selecção, será necessário validar a inscrição efectuando o respectivo pagamento, caso contrário a mesma não será aceite.
O pagamento da inscrição poderá ser efectuado em numerário no Centro Cultural Vila Flor, através de cheque enviado por correio à ordem de “A Oficina, CIPRL”, ou através de referência multibanco a gerar no acto de inscrição, até à data limite designada para o efeito. Em caso de desistência, o valor apenas será reembolsado se a mesma ocorrer até 48h antes do início da actividade.